No séc. XI, é certo que S. João da Madeira já tinha igreja própria como declaram os documentos de 1088, esse templo medieval, românico ou gótico caiu na desgraça do desaparecimento. Conhecem-se alguns motivos iconográficos e descritivos dum templo (que não parece ser o primeiro) anterior à atual igreja:
«A antiga Igreja (que ficava voltada para a via militar romana, sentido leste-oeste, e não como a atual) era constituída, além, do corpo central, por uma capela chamada do Senhor dos Passos e que se destacava do lado sul desse corpo; e esta capela comunicava com uma sacristia. Além desta sacristia, situada do lado sul, havia ainda mais duas: uma voltada para Norte e outra também para o Sul, em situações idênticas correspondentes às duas que existem actualmente. Por cima da sacristia do clero, havia uma sala onde se efectuavam as reuniões das confrarias e ainda onde se guardavam as alfaias e objectos de culto. A igreja tinha vários altares. O altar do Senhor dos Passos estava situado na capela lateral do mesmo nome; e a imagem que a ele pertencia foi abandonado após a demolição de 1883. O altar do Senhor Crucificado estava situado do lado Norte do corpo central; a sua imagem está hoje no altar do Coração de Jesus, tendo sido transformada no Senhor Morto. A cruz à qual esta imagem estava pregada, ainda hoje se aprecia na sacristia situada a lado Norte, por debaixo da sanefa que ali existe. O altar da Senhora da Boa-Morte ficava do lado Sul; a sua imagem ainda hoje se admira no altar do Coração de Maria. Os dois altares que em último lugar citamos, o do Senhor Crucificado e o da Senhora da Boa-Morte, foram vendidos, para a cidade do Porto, ainda que de valor riquíssimo, pois a sua talha era de real significado artístico. O produto da sua venda reverteu a favor da construção da igreja actual, não sem provocar da parte dos crentes uma certa indignação, devido ao acrisolado amor e veneração que tinham pelos citados altares. Além das primeiras imagens, outras mais passaram para a igreja nova e ainda hoje as podemos ver. São elas: a de S. João Baptista, do Mártir S. Sebastião, de Sant’Ana, da Sra. do Rosário, de S. José, S. Bento, S. Gonçalo, S. Braz, Senhora do Desterro, de S. Torquato e do Menino Jesus».
A atual igreja matriz sanjoanense branqueja altaneira, no centro da urbe, desde 1884, e impõem-se pela sobriedade das suas linhas arquitetónicas e pela grandeza e solidez do edifício. Não fora ele risco traçado por um reputado Mestre de Engenharia, o Prof. António de Araújo e Silva, da Escola do Porto!
Dava-lhe acesso solene uma vistosa escadaria, que nascia no passeio da rua tradicional e se abria, no segundo patamar, em leque de dois lanços e de corrimões baixos e lisos, dando para o amplo adro. Exteriormente, dá-nos uma sensação de vazio; mas, entrando, o nosso olhar fica extasiado diante de tamanha variedade, beleza e riqueza de tudo o que nos é dado ver e admira, tanto em talha dourada como em motivos iconográficos e esculturais:
«Templo relativamente vasto e alto, severo e sólido, concebido dentro daquela austeridade e rigidez de linhas que denunciam a educação de engenheiro. Houve certa inspiração nas obras tradicionais. Fachada cm torre a meio, incluída na obra, produzindo na base o átrio interno: divide-se em três secções verticais, por meio de pilastras: o central, a marcar a mesma torre; os lateras, com janelas na zona baixa e na do coro; a torre destaca-se só acima do cume dos telhado, compondo-se do corpo baixo e da parte dos sinos, que apresenta uma diminuição de largura. Nos alçados laterais recortam-se porta travessas, fronteiras, e três janelas simples de cada lado, dias mais de cada parte da capela-mor. O retábulo principal, reaproveitado, foi ampliado no mesmo estilo. Data dos fins do séc. XVIII, constando do grande camarim, de duas colunas destacadas a cada lado e alto remate recortado. Está a branco e ouro. A igreja tomou posição inversa da antiga, ficando a nível elevado relativamente à nova estrada nacional. No adro, lateralmente à igreja, a sul, conserva-se um cruzeiro do tipo calvário, de cruz oitavada e moderna, que não será reprodução exacta da antiga; antigo é o plinto, baixo, datado de 1695».
Na igreja se espelha a índole do povo e o brio dos Párocos, sendo de destacar o órgão de tubos no cor alto.
[FERNANDES, Maurício Antonino, S. João da Madeira: Cidade do trabalho (S. João da Madeira: Edição Câmara Municipal de S. João da Madeira 1996), 83-87.]
Orago: São João Batista
Missa solene no domingo mais próximo de 24 de junho, solenidade do nascimento de S. João Batista, com a tradicional saída de majestosa procissão da parte da tarde.